Surpresa! Estou em Recife! É uma longa história que começa desde a saída de Noronha: O vento estava maluco! Soprava para onde não era para soprar e até o Equador foi difícil, depois piorou.... Tínhamos uma previsão de ventos que de nada serviu. No dia 31 enfrentamos chuvas e zigezagueando contra o vento, fizemos apenas 50 milhas em direção a Cabo Verde (600 milhas), seguindo neste ritmo o nosso combustível não seria suficiente para retornar a um porto se algo desse errado, então a decisão foi voltar! Comento que quando falo de um porto, o mais próximo era Fernando de Noronha (750 milhas)! Na África (600 milhas) não é muito aconselhável ir com um barco destes. Foi um dia muito difícil, navegar com velas contra o vento durante longos períodos exige muito do barco e da tripulação. No barco começaram as panes: era freezer que parou e começou a descongelar, portas que se soltavam das travas e batiam, alternador de 24 volts sem funcionar. Os heróicos rapazes que se ensoparam mais de três vezes ao manejar velas, além do constante pavor de uma queda no mar, numa situação de mar assim, é mortal! É impossível conseguir manobrar um barco deste para voltar e ainda achar a pessoa. No tempo da manobra, as ondas e correntezas afastam e escondem quem caiu. Foi um dia agourento.
O avião acidentado caiu atrás de nós, o centro do raio de busca divulgado pela marinha fica a 250 milhas de aonde estávamos, mas na volta passamos novamente pela região, nada vimos, sequer aviões sobrevoando.
Voltamos com velas e motor, fizemos 5 dias de viagem até Recife, que nos ofereceria melhor estrutura para abastecer e fazer algumas manutenções. Chegamos ao porto ontem as 23:00. O único dia que o vento esteve conforme o usual foi ontem, já aqui na costa do Nordeste.
Estávamos preparados para reabastecer o barco e tentar novamente a travessia, mas hoje tivemos a notícia da decisão do proprietário para que voltássemos para Ilhabela. Zarparemos amanhã para Salvador.
Hoje a tarde estive com Átila no Cabanga Iate clube, e dentre vários amigos de Átila conheci o Cleison, conhecido no meio náutico como Torpedinho, e diante de um grande quadro que retrata a cidade e o porto no tempo do Império, ele nos deu uma boa explicação de como foi o crescimento ( e “estragamento”) da cidade que tinha possibilidade de se tornar uma Veneza Nordestina. Até os americanos na segunda guerra ao fazer uma base abriram uma passagem no curso natural do rio e com isso mudaram totalmente o fluxo das águas assoreando o porto.
Hoje vejo uma extensão enorme ao longo do rio e do porto, abandonados e decrépitos. Uma pena! Ainda não consegui andar por ai para fotografar.